Sobre o 'Pensamento Vivo', de Craig Holdrege
- escolaschumacherbr
- 4 de nov.
- 3 min de leitura
por Bia Tadema, diretora da Escola Schumacher Brasil

Quando Craig Holdrege fala em “pensamento vivo”, ele está nos convidando a perceber como pensamos, e o que acontece quando nossa forma de pensar se desconecta da própria vida.
O ponto de partida, para ele, é o que chama de pensamento-objeto: uma maneira de olhar o mundo como se ele fosse feito de coisas; entidades fixas, isoladas, que interagem de acordo com leis mecânicas.
É esse modo de pensar que sustenta a visão moderna da natureza como um sistema, algo que pode ser explicado, controlado, manipulado. E que vive hoje em todas as áreas, inclusive na educação.
E esse tipo de pensamento não é neutro.
Quando vemos o mundo como um conjunto de objetos, nos separamos dele.Perdemos a intimidade com aquilo que tentamos compreender.
A água deixa de ter qualidades, toque, sons, textura — e passa a ser H₂O.
O fenômeno vivo se transforma em abstração.
A realidade é reduzida a mecanismos, a fórmulas, a dados.
Vivemos o que Craig chama de um processo de ‘coisificação do mundo’.Dividimos os fenômenos em partes, isolamos, medimos, e quanto mais tentamos compreender, mais nos afastamos da vida que pulsa neles.
Em tentar entender buscamos as causas, e então vemos menos ainda do que está lá
A natureza, vista como objeto, se torna recurso.E como recurso, pode ser explorado, vendido, usado.
O capitalismo se apoia nessa lógica, transformando tudo em mercadoria. Ironicamente, a única metáfora orgânica usada pelo capitalismo é o crescimento, mas um crescimento linear, infinito, que na natureza simplesmente não existe. As emoções, os gestos, as qualidades, a alma; desaparecem.As abstrações se tornam maiores do que a experiência.
E nós, imersos nessa cultura de separação, deixamos de perceber.
E esse talvez seja o principal ponto. Deixamos de perceber o mundo, nos movemos pela ideia dele.
Craig nos propõe um outro caminho: evoluir o nosso estado mental para um estado mais dinâmico, mais participativo, tão flexível quanto a própria vida.
Ele chama isso de pensamento vivo.
Pensar de forma viva é voltar ao fenômeno.É perceber o mundo em sua totalidade, dentro do contexto em que ele acontece.É deixar que o próprio fenômeno nos ensine
Craig observa as plantas e nos convida a aprender com elas.Uma planta é um ser que não se isola.Ela cresce em relação com o contexto: depende da luz, da água, dos minerais, da terra.Uma semente, para brotar, precisa abrir mão do seu isolamento, precisa se fundir com o solo, se entregar à relação.Só assim pode florescer.
E ele nos pergunta: ‘O que aconteceria se o nosso pensamento tivesse essa mesma flexibilidade?Se fôssemos capazes de pensar em relação, de nos abrir ao contexto antes de formular conceitos fixos? Como seria pensar a partir da experiência direta, sensível, em vez de impor ao mundo nossas ideias pré-estabelecidas?’
Pensamento vivo é pensar em relação.
É perceber quando corremos rápido demais para generalizações, quando simplificamos antes de escutar o detalhe.É cultivar um pensamento sensível ao contexto, que se move junto com o que observa.
Isso exige atenção.Atenção para perceber quando estamos abstraindo demais, quando deixamos de perceber, de sentir.Atenção para voltar à concretude das coisas, aos detalhes que revelam a essência dos fenômenos.Em vez de buscar causas escondidas por trás daquilo que vemos, precisamos olhar para o próprio fenômeno.
A vida não precisa ser explicada: ela precisa ser observada com delicadeza.
Quando o pensamento se torna vivo, ele deixa de fragmentar.Passa a perceber relações.Deixa de ser um instrumento de controle e passa a ser um modo de correspondência com o mundo.Um pensamento que não domina, mas participa.Que não se apressa em concluir, mas acompanha o que está em formação.
Reconecta com o mundo sensível, com a experiência direta, com o caráter processual e misterioso da vida.Craig nos convida a viver o pensamento como movimento. Um pensamento que respira, que se adapta, que cresce em relação.
Talvez a educação que precisamos é essa, que torna o nosso pensamento mais vivo que os conceitos que o sustentam. Que nos convida a pensar com o corpo, com o mundo, com o coração aberto aquilo que ainda não sabemos nomear.
Craig Holdrege, Ph.D., é cofundador e diretor do The Nature Institute, em Ghent, Nova York — uma organização dedicada a desenvolver e aprofundar a fenomenologia goetheana por meio de pesquisas, educação de adultos e publicações (natureinstitute.org).







Comentários